quinta-feira, 6 de agosto de 2009

V.A.P.

Tive notícias de suzette. Ela realmente ama-me, está comprovado.
Ao saír de casa fui abordada por uma figura de oculos escuros prateados que me passou um papel.
Estranhei, mas não muito. Que vida estúpida seria aquela em que isto fosse estranho.
Tenho cinco minutos de pausa.
Há um feto no escritório que pertence a várias pessoas. Foi uma prenda no aniversário da empresa. É a minha vez de o regar. O bilhete é numero de telefone.
À hora marcada dou com um jardim decrépito em obras eternas.
Não é suzette.
Acho que estou a entrar para uma seita. Nada de mais. Mas tenho que arranjar dinheiro de chico-zé.
Tudo depende do meu interesse. Só me pedem uma coisa_se não me interessa, que prescinda de fazer dinheiro com a história delas. Mas interessa-me assim ou assim. Pergunto-me como ameaçarão pessoas mais suspeitas que eu. Talvez sejam infalíveis com quem escolhem, ou talvez houvessem razões para eu ter medo. Se a Suzette está nisto, tenho uma ideia clara do que é moral neste jogo. Ou uma confiança infinita. Ou uma cegueira profunda.
A suzette está em disfarce, a viver com um ministro.
Entrei para o V.A.P. com o meu dinheiro de chico-zé. A minha casa habitual, o meu emprego, escolhi mantê-los, o meu aparente estilo de vida. Mas pretendo passar mais tempo no V.A.P. pelo que se viram forçadas a acolher a minha gatinha. Portanto, deixei de ter oficialmente gato.
Fellini iria adorar o V.A.P. do ponto de vista estético. Toda a ideia de V.A.P. é uma opção estética, mas uma opção organizada, e um mecanismo de protecção.
Em geral consigo comunicar com toda a gente, mas são poucas aquelas com que consigo perceber ter língua partilhada.
Por exemplo, a ideia de mercadoria. Suzette está de casa posta pelo ministro 13, que não a toma por prostituta mas por segunda esposa. A primeira, mais cara, tem domicílio no restelo, mas tem também filhos. Duvido que suzette lhe faça essa cena, pelo menos se ele tiver um feitio controlador. Eu não conseguiria vender a minha vida privada. Talvez esteja demasiado afectada pela imagem de individuo. Ainda que saiba que a minha vida privada é uma ilusão que vendo aos outros, agora que tenho uma Vida Absolutamente Privada, ainda assim gosto de ter controlo sobre essa ilusão.

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