quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Suzette & eu

A Susette está espalhada num castelo de almofadas, pernas em quatro. A toda a volta gira a casa do chico-zé que a invocou, depois os prédios, os raros parques, as estradas por distâncias infindas e finalmente talvez no fundo, um mar ou um campo de cultivo.
Tenta fazer força mas estão colados os olhos, como se tivessem areia e sente um zumbido agudo. Abana, diz-se meneia as ancas antes de acordar, antes de decidir acordar meneia-se como se ainda fosse ontém, expulsando com a barriga o utero de encontro ao sexo, arrastando o pito no lençol para apanhar as ondas de sangue que lhe sobem pelo peito e lhe descem franzindo o cu. Lembra-se e dá uma gargalhadinha para dentro. O chico-zé, em inglês john, pouco expedito nas artes do amor.
A suzette tem que acordar, mas o pito arrasta no lençol, à procura das zonas frescas, reclamando um pouco do atrito do pseudo-linho. Recolhendo um pouco a barriga consegue esbarrar com os mamilos e o queixo também, para cima e para baixo, e abre a boca contra o lençol. Os cantos da boca, as gengivas, a língua. Um ser pesado pousa-lhe com estrondo nas costas e o chico zé não é, é a antítese perfeita desse ser. E. e R. ou seja Ela e Ela, habituadas aos jogos de sala dos jovens adultos poderiam mais concretamente, sem grandes preparações, possuir esse ser. A boca continuar a dar respirações fundas ao lençol e as costas erguem-se em ponte entre o pito e os mamilos que baloiçam na ponta dos chumaços-mama.
Num acesso histerico, suzette acorda e recolhe o salário. Com precisão, sobe o rolinho das meias sfumatto até às coxas, prende os clips e coloca o resto da roupa, ie, uma unica peça lisa de 60 centimetros e calças os sapatos para sair. Tudo isto levou cerca de um minuto e em cinco deles já não há vislumbre de almofadas de debrum budista.
Eu acho que suzette, o meu crepe suzzette está lá dentro a fazer coisas sujas num sítio sujo. A abrir a boca contra os azulejos e a arquear as costas fazendo uma ponte entre os mamilos e o pito e que sente a falta de algo que possa agarrar e expulsar com a cona, mas há se há coisas que o meu crepe suzette acha é que há coisas que tem que fazer sozinho. Ela tranca a porta e eu leio o jornal. Aceno ao barista e peço o café da manhã.
Felizmente é fim de semana.
O meu crepe suzette é prostituta das finas. Basta fazê-lo por ideologia, começar por ideologia para ser uma das finas. Eu sou...não importa o que eu sou. Tudo é igual a prostituta excepto prostituta.
O meu crepe suzette diz que fazer prostituta lhe lembra como as coisas são mal feitas e é preciso fazê-las melhor. De que há quem pague para isso. Pelo caminho acabo no lote dos malfeitores, mas nunca dos maus amigos.
Este gesto que conheço tão bem, o arquear da minha suzette é uma metáfora mal feita. Só tenho a certeza que existe, e quando a vejo arquear tenho a certeza que sou fraca e pequena demasiado infima, enfim que as forças se me canalizam como num giradiscos avariado, com excessiva ou pouca intensidade, com pendor para o sadismo, a vingança sabe-se lá de quem, ou o seu contrário, agressividade insuficiente para deixar de ser servil fodendo.
Uma vez ou outra já me perguntei se seria anatomia, o recurso ao dildo que me faz sentir mas não é um orgão, mas ela assegura-me que os chicos-zés não se saem melhor.
Sendo a histeria, o sadismo, o esquecimento do próprio desejo e a vontade de desejar para cumprir uma função, o sexo como função? Eu só queria fazer o meu crepe suzette feliz...Ou menos só...ou que fosse só (se tem mesmo que ser) comigo.

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